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11/08/2019

Good vibrations

Há 12 anos, mais coisa menos coisa (mais semana sim, mais semana não), que leio em voz alta. É algo que me dá particular prazer.

Primeiro, um prazer físico.
No saxofone, e estando reunidas uma série de condições (na temperatura, na humidade, essas coisas), há uma nota, creio que o Re, que tem uma vibração especial — tocas aquela nota, que deixas alongar, e sentes o saxofone a tremer contigo: porque vibra tudo, o teu sopro, o teu corpo, o metal, a palheta. Há notas mais óbvias, claro: quando desces ao som do paquete a buzinar, não há como não tremer por todos os lados. Mas essas são previsíveis, funcionam sempre. Não, estou a falar de uma coisa mais subtil.
Passa-se o mesmo com a leitura em voz alta: agrada-me a sensação física do ar a sair dos pulmões, a transformar-se em voz e palavras, sentir o peito e a garganta a reverberarem, as palavras a chegarem aos ouvidos das pessoas de quem mais gosto.

É, também, um prazer (e um gesto) de intimidade.
No outro dia, quando pus aqui o livro do Pennac e dei com aquela entrevista, fiquei mesmo contente de saber que ele e a mulher lêem um para o outro em longas viagens de carro. Se algum dia fosse professor de literatura, interromperia as aulas para sessões de leitura.

Por fim, o prazer da história, do poema, do texto dito.

Eu, que em tantas coisas habito tão mal o meu corpo, gosto destas correntes de ar.

(Mas não gosto de me ouvir, isso é todo outro par de botas)


05/12/2018

Ideia para uma cena qualquer que nunca vou escrever:
Personagem A tem um anel/brinquedo/qualquer coisa e espera poder dá-lo, um dia, a alguém. Todos os anos, embrulha o embrulho, acrescentando assim à anterior uma nova camada de papel colorido. Mais tarde, um corte transversal permitirá perceber, como nos troncos, quanto tempo durou a espera.

31/10/2018


Faz em Dezembro cinco anos que o meu pai morreu. Pouco tempo antes,tivemos, eu e ele, daquelas tentativas frustradas de conversar — quando sabes que está a chegar a hora e que há muita coisa por dizer mas, por falta de um manejo rotineiro da língua, fica tudo ali nuns gaguejos e em conversas sobre o estado das nuvens e a chuva que aí vem. Nunca fomos muito de conversar — pelo menos civilizadamente. Rapidamente descambava tudo para discussões de merda: ele achava-me um idealista romântico burguês e com mania que era do contra (tem a sua verdade); eu achava-o um tiranete acomodado e pouco habituado a contradições (o que também está correcto).
Adiante. Nunca fomos de grandes conversas, portanto. Não que fosse muita, mas tinha uma pequena esperança de encontrar, depois, nalguma gaveta, um caderno, um diário, algo de escrito onde finalmente lhe ouvisse a voz, lhe lesse alguma visão sobre a sua própria vida, sobre mim, sobre os meus irmãos, essas coisas que às vezes acontecem nos filmes.
Nada.
(Parece que ele estava a escrever qualquer coisa no computador mas aquilo está de tal maneira fechado a sete chaves com passwords que nunca lhe conseguimos aceder.)
Já o Álvaro e a Flora, coitados, vão ter de desbravar tanto papel com tanta porcaria escrita, versos manhosos, listas de compras, rabiscos, cartas e rascunhos de cartas, que lhes gabo a paciência, se a tiverem. A grande maioria será lixo (reciclagem, fáxavor) mas, para lhes facilitar a vida, no ano passado comecei a escrever nestes cadernos da foto acima. Até que estou orgulhoso: tirando uma ou outra lista de compras ou um número de telefone apontado à pressa, tenho conseguido manter a balda do costume longe daquelas folhas. O conteúdo, obviamente, não é para aqui chamado.
Mas.
No outro dia fiz 40 anos — uau — e dei por mim a começar a fazer uma lista de 40 conselhos (daí me ter lembrado do Prudent Advice, ali mais para baixo), conselhos esses que vou anotar e comentar nos ditos cadernos mas, também, transferir para aqui. Com o rigor e a disciplina que tanto caracterizam este blog, i.e., nenhuns.

Falando em rigor e disciplina, o de plomb… tem estado um bocado encalhado, entre trabalho aos potes e um desânimo do caraças com o estado do mundo, mas em princípio para a semana há um novo.

Isto dito, uma boa noite a quem por aqui passar.

09/05/2015

9.

Aprendam a aceitar elogios.
Depois, quando souberem como se faz, ensinem-me, por favor

07/05/2015

7. 8.

7.
Não fumem. É estúpido, caro, dá-vos cabo da saúde e acordam com a boca a saber a caixote do lixo deixado ao sol durante 4 dias com fruta e restos de peixe lá dentro. E cascas de camarão. Mesmo agradável.

8.
Quando — (se) — tiverem filhos, guardem espalmadas em cadernos as folhas e flores que eles vos derem. Dá-me sempre um sobressalto bom quando tropeço nessas vossas manifestações de ternura. Ou de tendência para acumular toda a tralha encontrada no chão. Não interessa. É fofo.

06/05/2015

6.

Não façam nem atendam chamadas anónimas. Não há nenhuma justificação plausível para números ocultos.

05/05/2015

5.

Confiem em desconhecidos. A maior parte das pessoas é bem-intencionada.
(Confiem, também, nos vossos instintos, mesmo que percebam que esses instintos são, por vezes, facilmente ludibriados. Ainda assim: é melhor viver de braços abertos do que com medo e desconfiança de tudo e todos ou atrás de uma máscara)

04/05/2015

4.

Contrariamente ao que possa parecer (socialmente, etc), continuam a existir mesmo que não tenham uma presença online. O mundo está de tal maneira que já nos esquecemos disso, mas é a verdade: o mundo real está fora dos zeros e uns.

03/05/2015

3.

É frequente, em entrevistas ou biografias de escritores, músicos, actores, etc., referirem-se ao ambiente que havia por casa: pais com vida social, amigos da família, casas num corropio de gente e conversas.
O meu pai era bicho do mato, eu sou um bocado bicho do mato, mas isso não é bom. Penso que contribuiria para a vossa felicidade e o vosso crescimento se, de facto, esta casa estivesse mais vezes cheia de vozes diferentes, cheia de pessoas, amigos, família até, que vos trouxessem, apenas por existirem, uma constelação de mundos diferentes.
Rodeiem-se, pois, de pessoas.
Os livros e os discos são giros, é um facto, e têm voz própria, mas nada é tão rico e vibrante como pessoas, amigos, família até, de carne e osso. 


(aplica-se, na maior parte destes conselhos, aquela coisa do faz o que eu digo, não faças o que eu faço — cf. n.º 6)

02/05/2015

2.

Tirando os casos necessários (um esmerilhão ou um guarda-rios lá ao longe; animais daqueles que gostam de dar dentadinhas em humanos; situações de trabalho [fotografar desporto ou conferências, etc]), evitem utilizar o zoom. Aproximem-se do objecto fotografado. Fotografar é, para além de um acto visual, um acto físico.

01/05/2015

1.

(começando o que foi anunciado aqui)

1.
Não confiem em quem esbraceja muito. 
Momentos de acção, nos filmes, em que a câmera mexe muito (cf. alguns Batmans) geralmente tentam esconder o facto de não se estar a passar nada. 
Pessoas que bufam, se lamentam ininterruptamente e bradam (a quem estiver para ouvir) o quão assoberbadas estão em [inserir aqui qualquer coisa], geralmente estão mais preocupadas em parecer que estão a fazer do que em fazer. 
É aldrabice.