31/10/2018


Faz em Dezembro cinco anos que o meu pai morreu. Pouco tempo antes,tivemos, eu e ele, daquelas tentativas frustradas de conversar — quando sabes que está a chegar a hora e que há muita coisa por dizer mas, por falta de um manejo rotineiro da língua, fica tudo ali nuns gaguejos e em conversas sobre o estado das nuvens e a chuva que aí vem. Nunca fomos muito de conversar — pelo menos civilizadamente. Rapidamente descambava tudo para discussões de merda: ele achava-me um idealista romântico burguês e com mania que era do contra (tem a sua verdade); eu achava-o um tiranete acomodado e pouco habituado a contradições (o que também está correcto).
Adiante. Nunca fomos de grandes conversas, portanto. Não que fosse muita, mas tinha uma pequena esperança de encontrar, depois, nalguma gaveta, um caderno, um diário, algo de escrito onde finalmente lhe ouvisse a voz, lhe lesse alguma visão sobre a sua própria vida, sobre mim, sobre os meus irmãos, essas coisas que às vezes acontecem nos filmes.
Nada.
(Parece que ele estava a escrever qualquer coisa no computador mas aquilo está de tal maneira fechado a sete chaves com passwords que nunca lhe conseguimos aceder.)
Já o Álvaro e a Flora, coitados, vão ter de desbravar tanto papel com tanta porcaria escrita, versos manhosos, listas de compras, rabiscos, cartas e rascunhos de cartas, que lhes gabo a paciência, se a tiverem. A grande maioria será lixo (reciclagem, fáxavor) mas, para lhes facilitar a vida, no ano passado comecei a escrever nestes cadernos da foto acima. Até que estou orgulhoso: tirando uma ou outra lista de compras ou um número de telefone apontado à pressa, tenho conseguido manter a balda do costume longe daquelas folhas. O conteúdo, obviamente, não é para aqui chamado.
Mas.
No outro dia fiz 40 anos — uau — e dei por mim a começar a fazer uma lista de 40 conselhos (daí me ter lembrado do Prudent Advice, ali mais para baixo), conselhos esses que vou anotar e comentar nos ditos cadernos mas, também, transferir para aqui. Com o rigor e a disciplina que tanto caracterizam este blog, i.e., nenhuns.

Falando em rigor e disciplina, o de plomb… tem estado um bocado encalhado, entre trabalho aos potes e um desânimo do caraças com o estado do mundo, mas em princípio para a semana há um novo.

Isto dito, uma boa noite a quem por aqui passar.

Sem comentários: