11/08/2019

Good vibrations

Há 12 anos, mais coisa menos coisa (mais semana sim, mais semana não), que leio em voz alta. É algo que me dá particular prazer.

Primeiro, um prazer físico.
No saxofone, e estando reunidas uma série de condições (na temperatura, na humidade, essas coisas), há uma nota, creio que o Re, que tem uma vibração especial — tocas aquela nota, que deixas alongar, e sentes o saxofone a tremer contigo: porque vibra tudo, o teu sopro, o teu corpo, o metal, a palheta. Há notas mais óbvias, claro: quando desces ao som do paquete a buzinar, não há como não tremer por todos os lados. Mas essas são previsíveis, funcionam sempre. Não, estou a falar de uma coisa mais subtil.
Passa-se o mesmo com a leitura em voz alta: agrada-me a sensação física do ar a sair dos pulmões, a transformar-se em voz e palavras, sentir o peito e a garganta a reverberarem, as palavras a chegarem aos ouvidos das pessoas de quem mais gosto.

É, também, um prazer (e um gesto) de intimidade.
No outro dia, quando pus aqui o livro do Pennac e dei com aquela entrevista, fiquei mesmo contente de saber que ele e a mulher lêem um para o outro em longas viagens de carro. Se algum dia fosse professor de literatura, interromperia as aulas para sessões de leitura.

Por fim, o prazer da história, do poema, do texto dito.

Eu, que em tantas coisas habito tão mal o meu corpo, gosto destas correntes de ar.

(Mas não gosto de me ouvir, isso é todo outro par de botas)