Na de cima, da esquerda para a direita, a minha avó Lurdes, a minha tia Clara, senhora dona minha mãe e a minha tia Nené. Não sei quem é o cão da foto da direita, mas claramente preferia estar noutro sítio que não nos braços da minha mãe. Adiante. Estas fotos estão todas mais ou menos atiradas à balda para dentro de três pastas como esta (e às quais voltarei amiúde):
(vamos não ligar às migalhas e restos de tabaco na toalha, sim? Entretanto já a sacudi)
Vivi alguns anos com os meus avós maternos e tenho, portanto, muito mais afinidades com eles do que com o lado paterno da família. A minha avó era uma acumuladora desaustinada (até potes de iogurte — lavadinhos, claro — encontrámos quando nos tivemos de desfazer da casa onde viviam). O meu avô um personagem de desenho animado; era, aliás, muito parecido com o Mister Magoo. E há pontos de ligação entre o meu avô e o meu pai. O meu bisavô era um juiz daqueles todos importantes (foi presidente do Supremo Tribunal de Justiça de 1934 a 1947, em pleno Estado Novo); o meu tio-avô, que aparece nas fotografias mais abaixo, era o irmão mais velho e, mandaria a tradição, devia ter seguido as pisadas do meu bisavô. Em vez disso, meteu-se na Marinha de Guerra e dele só me lembro que tinha uma linguagem bastante colorida (para grande arrepio da minha mãe, das poucas vezes que o visitámos). Acontece que o meu avô, de que me lembro sempre ou de volta da máquina de escrever (as mãos tremiam-lhe desde os 20 e poucos anos) ou de volta de engenhoquices numa salinha ao fundo da casa, decidiu seguir Direito para fazer a vontade ao pai.
Também o meu pai era homem de engenhocas, mais interessado em carros e em mecanismos do que em Direito Internacional. E também ele seguiu Direito para provar ao seu pai (advogado) que não era menos que os seus dois irmãos mais velhos, ambos formados em leis.
Nem sei porque é que estou a contar esta história — acho que me faz impressão esta coisa de tomar decisões em função das expectativas dos outros.
Voltando à foto inicial. A minha avó era uma fixe. Gostava de se deitar e levantar tarde, ficava a ler a sua colecção Vampiro até de madrugada. Em nova, engravidou de um fulano que depois não quis casar. O escândalo! A vergonha! O meu avô Américo, anos mais tarde, apaixonou-se por ela e decidiu, contra tudo e todos, assumir a relação e a filha. Tenho, nesta pasta, um diário dele onde vai dando conta do processo e é tão bonito de se ler, naquela sua escrita todo milimétrica (não a caligrafia mas o relato desapaixonado dos factos), como decidiu borrifar-se para as expectativas e seguir o que lhe ia no coração. (Já falei dele aqui, e dei-me conta de que me repeti bastante, neste post, e que estou a ficar xexé e epá não me chateiem, a pandemia e as dores nas costas, tá?)
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