27/04/2021

Cães, motas e carinho

Isto de ter um cão é novidade para mim — em puto havia cães lá por casa, mas nunca nenhum a meu cargo, digamos assim. E passa-se com os cães o mesmo que com as motas: levar um bicho com cerca de 4 patas por uma trela, pelo menos numa zona residencial e com espaços verdes como esta onde vivemos, faz com que faças logo parte de uma espécie de comunidade. Assim de repente, e sem puxar nada pela cabeça, posso nomear o Pickles, a Mica, a Ica, o Anúbis, o Fausto, o Tom, o Pongo, a Matcha, o Nacho, a Blay, o outro Pongo, o Ronnie, a Maria, a Gamba, o Alvor e o Estremoz, o Nuno, a Pipoca, a Nikita, o Papi, etc (dá para perceber a ideia). Juntam-se todos ao final do dia, em combinações variáveis, num relvado aqui perto. E @s don@s habitam mesmo o bairro, palmilham-no todos os dias. É malta fixe e tem sido um prazer conhecê-los e sentir-me um bocado parte desta comunidade. Claro que também há bestas: um idiota qualquer que apanha os cocós mas deixa os sacos todos junto a uma árvore (ainda hei-de descobrir quem é, só para lhe perguntar qual é a ideia); ou aquele que tem um pastor alemão de ar muito infeliz e, tendo-lhe eu perguntado como se chamava o bicho, me respondeu «não se chama, é cão!». Enfim, idiotas. 

A Chiclete, quando vamos em direcção ao parque, costuma apanhar galhos do chão. Assim que tem um na boca, muda-se-lhe logo o andar, que passa a um trote feliz e saltitante, de quem vai a cantarolar lá dentro da tola um «opá opá vou brincar woof com os meus amigos woof woof». Nem importa se, depois, chegados ao parque, não lá está ninguém — aquela lampeirice ninguém lhe tira. 

Passa-se o mesmo comigo. Mais ou menos. Não que mordisque galhos (embora um ocasional woof interno me apanhe de surpresa). Não odeio ninguém, mas também não morro de amores pela humanidade no geral — na maior parte dos casos, uma cordial co-habitação do planeta, vá, e tá bom. Mas sinto-me, nas últimas semanas, tomado por um carinho (a minha mãe diria que são gases) (tudo, para a minha mãe, são gases) — um carinho que me torna o andar mais ligeiro e saltitante, um bem-querer que não precisa de justificações nem retribuições e que, muito provavelmente, acabará no parque vazio. Mas pelo caminho vou de passo contente e a aproveitar, que está um dia bonito e colorido. 


2 comentários:

nuno disse...

isso, a bem dizer, são flatulências, vá.

Pedro Serpa disse...

Só pode. Pfffff
:)