29/09/2021

auto-rádio

Andar de carro nunca foi uma actividade que me entusiasmasse por aí além — e, carta tirada, continua a não entusiasmar. Pois que sim, que dá jeito para transportar a canalha toda (duas e quatro patas) e trazer mais do que dois sacos cheios do super. Mas continuo a preferir as duas rodas, mesmo à chuva, com a alegria de levar com o vento nas ventas, ao conforto caixinho de um automóvel. Mas. 

Assim de repente, lembro-me de três viagens, todas elas nocturnas, em carros. Uma vez com o meu irmão, a caminho do Algarve, pela nacional, a ouvir boa música, em que ele, por uns metros, desligou os faróis (sim, sei que é estúpido e perigoso) — e uma sensação de estar a deslizar pelo meio de uma noite cerrada e estrelada. Outra vez, também com o meu irmão, na serra de Sintra, ia no banco de trás com a cabeça inclinada a ver as estrelas. Por fim, no meu primeiro ano da faculdade vivia em Carcavelos e costumava encontrar-me com malta de Oeiras (que lhe dava bem nos copos); uma noite, fomos de carro até ao farol da Guia e a banda sonora era o In A Silent Way, do Miles. Ainda hoje não consigo ouvir esse disco (e oiço muitas vezes) sem que funcione como madalena instantânea. ~

 

No outro dia, ao voltarmos para casa (à noite, lá teria de ser), depois de três voltas ao bairro, larguei os putos à porta de casa com a promessa de que não iria comprar tabaco mas só procurar uma m&%da de um estacionamento (o que, na prática, vai dar quase ao mesmo). Rádio na SBSR. E descobri outra das coisas em que um carro é melhor do que uma mota: música, música alto e a bom som. Começou a passar esta malha e soube-me pela vida. Até arranjei logo lugar, mas deixei-me ficar à espera do fim da canção, sem saber o que era (entretanto, e porque me parecia a voz da Joana Espadinha, fui procurar e encontrei-a) 



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