Desde Janeiro, fruto da brilhante ideia de ter oferecido a Chiclete à Flora nos anos, que não tinha um fim-de-semana só meu, sem ter de me preocupar com alimentar e passear quadrúpedes. Consegui convencer a mãe da Flora a levá-la, neste, e lá fui eu à minha terapia.
Fui até Milfontes, montei a tenda e passei o dia a ler. Há coisas piores de se fazer na vida. Pelo caminho, fiz a Nacional 10, cujos quilómetros antes de chegar à Arrábida estão entre os meus preferidos (outros são aqueles que vão de Lagos a Aljezur pelo meio da serra). E aproveitei para pensar na vida, infelizmente sem grandes resultados: sempre que penso na vida, chego à conclusão de que sou apenas um grãozinho de areia de merda, que não faço nada de particularmente bem, que a minha vida sentimental está a modos que morta e enterrada, que as minhas fotos não valem nada, que isto das mixtapes interessam a quem, caralho?, ronhonhó, ronhonhó, poor me, haja paciência.
Mas depois isto: vi vacas e coelhos; vi uma ave de rapina a dois metros de mim; vi avestruzes; no caminho de regresso parei em Sines para dar um beijo à minha filha, levar uma mordidela carinhosa da Chiclete (que é bruta portanto é carinho que deixa marcas), conhecer a Elsa-a-galinha, dizer olá aos avós da Flora (que são uns fixes); estou a (re)ler um livro mesmo incrível (este) que tem um personagem que entra mudo e sai calado (sim senhor); acordei de madrugada com andorinhas, cucos e um pássaro que parecia ter engolido um apito (mas adormeci com Queen, ah, a alegria dos parques de campismo ao fim-de-semana); passei a tarde na melhor das companhias a pintar paredes de preto; e afinal esta coisa de andarmos neste berlinde azul até que é fixe.
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