13/04/2020

Caixas de fósforos (10)

Há pouco tempo respondi a uma espécie de casting na Radar para um lugar de radialista. Uma das perguntas era, mais coisa, menos coisa, «como é que descobres música nova?». Por ordem crescente de importância, disse rádio, spotify, imprensa escrita e amigos.

A maior parte das pedras de toque daquilo que me dá prazer ouvir foi-me mostrada por amigos e consigo dizer quais e quando.
O meu irmão, quando eu era puto, mostrou-me os três J (Janis, Jimi, Jim) e, mais tarde, andava com uma cassette em que gravara de um lado Pearl Jam e do outro o Kind of Blue (o Miles ficou, o Eddie Vedder, nem por isso), ambos rapinados da colecção de discos dele. Na semana antes de me ir embora para Paris, a Florine emprestou-me uma cassette dos Naked City. O Bernardo deu-me o Dj Shadow e o Rui Miguel Abreu, num workshop na Flamenga, em Chelas, o Cut Chemist. O João mostrou-me a Márcia, o Ricardo a Emmy Curl. A Maria Lolita, quando andávamos a trocar mensagens no soulseek, falou-me no Andrew Bird. O Seven, do David Fincher, é o grande responsável por gostar de jazz (apesar de já saber, na altura, o Kind of Blue todo de cor) e por nele ter entrado por uma das portas maiores, a música do Thelonious Monk (há uma cena em que o Morgan Freeman vai jantar a casa do Brad Pitt e há um disco a tocar). Mas bom, o Fincher não conta como amigo, estou só a armar-me. À Cláudia devo as Warpaint. Há aqui um etc, mas é um etc curtinho.

Isto para dizer (e aqui vem a caixa de hoje) que são raros os discos e artistas a que tenha chegado assim do nada, um bocado ao acaso, sem ligar A a B. Aconteceu com o Thomas Chapin, que tinha um disco a tocar no piso de cima da Valentim de Carvalho (já depois do Rossio, mas ainda na loja onde agora está a H&M) e que me fez ficar parado a ouvir (e estoirar umas belas massas nesse dia). Ou um artigo na Mojo sobre os Fleetfoxes, que nunca tinha ouvido mais gordos.

Um dia, em pleno fascínio pela música da Emmy Curl (que ainda se mantém), e penso que depois de ter ouvido isto, da Bodyspace, calhou-me na jukebox este vídeo:


e foi amor à primeira nota.

Passados uns anos, comprei este disco que é um mimo em todos os aspectos: o objecto em si, a música que contém, o tão bem gravada que está, aquelas vozes e polifonias. [Se quiserem ler isto mas bem escrito, vejam aqui este texto da Maria João Pereira no A Voz do Operário.]






podem comprá-lo aqui

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