12/03/2019

Inventário dos sítios onde vivi *



Vivi em duas casas, neste bairro. Primeiro, em (muito) puto, dos 10/11 (?) aos 15 e, depois, no primeiro ano da faculdade, com o meu avô. Chama-se Terplana, fica entre Carcavelos e a Parede.


(38.695654, -9.346921)



Lembro-me de:
Ter passado a noite em branco depois de ver o videoclip do Thriller. 
Me fechar no quarto a ouvir Madredeus (e ser gozado por isso)
Estar de auscultadores a fingir que tocava bateria e, de repente, olhar para o lado e ver a minha irmã e a minha mãe à gargalhada 
Dar voltas de bicicleta na praceta
Ficar a olhar para os putos do bairro a jogar à bola e ter vergonha de descer e pedir para me juntar. 
Estar na marquise a jogar no computador do meu pai (era uma cedência rara)
Ao fim-de-semana, a minha mãe entrava quarto adentro de aspirador em riste (e ligado). Assim tarde, tipo 9 da manhã. «Toca a levantar», para mim e para o meu irmão (partilhávamos o quarto). 
A minha prima João sentada no sofá com a Leonor, bebé de meses. Tenho fotos disso. 
(e tanto mais)

*


Recordações desta casa:
Ficar a ampliar fotografias até às tantas da manhã com a malta dos escoteiros.
Um dia, ao subir a estrada, ver reflectidas nos prédios adjacentes luzes de bombeiros — para perceber, já no topo, que era um andar deste prédio que estava em chamas. Toda a gente na rua, gritaria, menos o meu avô. Pedi ao bombeiro para subir, abri a porta e lá estava ele, a ver a bola com o televisor no máximo (era muito surdo) — «então, avô, não ouviu a confusão toda?» «oh, fui à porta, perguntei o que se passava, ninguém me respondeu, continuei a ver televisão».
Já com a casa vazia, na manhã a seguir à festa de despedida, acordei com a notícia, no rádio, de que a Lady Di tinha morrido. Pareceu-me ainda matéria de sonho e delírio, voltei a adormecer.
Acordar de madrugada, ir apanhar o comboio à Parede para estar na faculdade às 8. Ver o sol a nascer sobre o rio.



(* título gamado ao Perec, claro)

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