Aquilo das redes sociais cada vez me faz menos sentido: nunca gostei de multidões, e menos ainda de multidões aos gritos. Não que estejamos, neste momento, sem razões para gritos — mas não vejo nada de benéfico nisso: estamos todos onde eles [«eles»…] querem que estejamos: agarradinhos aos ecrãs, com a suave ilusão de que somos muitos, qualquer que seja o lado da barricada. Chateiam-me os comportamentos miméticos, por exemplo, o ver reproduzido vezes sem conta, como se de uma afirmação se tratasse, aquele poema do Brecht. Ou aquele cartoon. Ou o repisar das mesmas piadas (ena, até o continente já se aproveitou daquilo do Banksy). Portanto, para mim, o facebook foi c'o caralho.
O próximo, em breve, será o insta (tenho as minhas razões para não apagar tudo de uma vez), onde as imagens, os efeitos, o discurso visual, são cada vez mais iguais iguais claustrofobicamente iguais (e na maior parte desinteressantes). Paralisa-me constatar que já tudo foi fotografado, e de todas as maneiras possíveis — apesar de, obviamente, não ser verdade.
Fico com este meu gabinete de curiosidades para ir redecorando à minha vontade. E voltar a uma vida mais analógica, digamos: comprar mais o jornal em papel, afastar-me das grandes praças onde todos gritam e processar o mundo a um volume e um ritmo mais meus.
(isso e estou quase a fazer anos, o que me provoca sempre uns acessos de mau-feitio e desalento — não por estar a envelhecer, estou-me a marimbar para isso da idade e da morte, mas por causa daquela semi-obrigação de ser um dia fixe, e contam-se pelos dedos de uma mão de um operário [daqueles que trabalham com guilhotinas] os dias de aniversário prazerosos que tive nos últimos 20 anos)
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