13/01/2016

Flora _ 5


Faz hoje cinco anos que este furacão, e digo isto no sentido mais carinhoso do termo, me entrou pela vida adentro. Com já cara, olhos, mãos, pulmões e feitio, transpostas aquelas barreiras de líquidos e peles, de bossa a gente. Poderá isto parecer a meio caminho entre o herético e só mesmo muito parvo, mas na altura angustiava-me uma dúvida, daquelas que entram na categoria do confundir o género humano com o Manuel Germano, que se pode traduzir em bom português para qualquer coisa como "da-se, será que vou gostar tanto desta coisinha como gosto do Álvaro?" [O problema quântico de numa coisa tão pequena e tão entretida a bombear sangue para todo o lado caber tanta gente]. A resposta é, claro, sim e, mais: não só cabe como não consigo já imaginar a vida sem ela.
Tem só cinco anos, é verdade, a vida toda pela frente, todos os trambolhões por dar, muita coisa que se vai modificar e afinar pelo caminho, mas esta menina, digo-vos, vai levar o mundo pela ponta do nariz. É esperta que nem um alho (expressão curiosa, esta, tenho de lhe procurar a origem), decidida, destemida, desembaraçada, matreira no bom sentido, boa companhia, óptima almofada e uma fonte inesgotável de espanto. Sim, há aqui muita baba, desculpem. Ainda por cima, hoje tivemos os dois um belo dia de merda, ela doente, eu feito casa, com uma telha daquelas. Este é, portanto, um pseudo-ensaio do que lhe conto dizer, daqui a umas horas, quando ela acordar e lhe der uma redonda beijoca ensonada de bom-dia e bom-aniversário.